Visita do enólogo do Sassicaia à Brancotinto Wine Store

Sebastiano Rosa, enólogo da Tenuta San Guido, da Toscana e da Agricola Punica, da Sardenha, esteve ontem, dia 19, na Brancotinto Winestore, em Indaiatuba. A Tenuta San Guido é a produtora do Sassicaia, o primeiro Supertoscano e um ícone da enofilia, e Rosa veio ao Brasil a convite da importadora Ravin.

Ele nos contou que a Agricola Punica surgiu da ideia de criar uma nova vinícola, mas que não fosse da Toscana, já que não fazia sentido ter outra produtora na mesma área da Tenuta San Guido. A escolha da Sardenha veio de uma busca por um terroir diferente, embora até então a ilha praticamente só produzisse os chamados vinhos de mesa. A empresa foi formada por uma joint venture entre Rosa, a própria Tenuta de San Guido, a produtora local Cantina de Santadi, seu presidente Antonello Piloni e o expert Giacomo Tachis, o criador do Sassicaia.

Em 2002 foram adquiridas 150 hectares no sudoeste da Sardenha, na chamada Sulcis Meridional, dividida em duas propriedades, Barrua e Narcao. A grande variação térmica entre os dias quentes e as noites frias, os solos argilosos e boa drenagem prometiam boas condições para a vinicultura. A predominância é da Carrignano, da qual já haviam no local vinhas plantadas há 20 anos. Os vinhos produzidos são o bom Montessu, com 60% Carignano, 10% Syrah, 10% Cabernet Franc, 10% Cabernet Sauvignon e 10% Merlot; e o ótimo Barrua, com 85% Carignano, 10% Cabernet Sauvignon e 5% Merlot, ambos bem diferentes mas características de nariz e boca em comum, que denunciam o terroir. A classificação territorial é Isola dei Nuraghi I.G.T., por causa da civilização Nuraghi que habitava a Sardenha antes dela ser incorporada à República Romana. Para Rosa, a bebida resultante é balsâmica, com notas de eucalipto e especiarias e com alto teor alcoólico que não se sente na boca. na vinificação é usada pouca madeira nova, para não ofuscar a uva.

Assim como não gosta do termo "uvas francesas" - cujo plantio a Tenuta San Guido foi pioneira na Toscana, com os espetaculares resultados conhecidos - , preferindo o termo "uvas internacionais", Sebastiano Rosa também não gosta da palavra francesa "terroir" para nomear a gama de elementos que fazem parte do vinho, por subentender que limita solo, clima, geografia e história simplesmente à "terra". Pode ser birra de vizinho, mas ele mesmo admite que foi o sucesso dos vinhos franceses que estimulou o investimento em qualidade por parte dos italianos, que resultaram não apenas no Sassicaia, mas também na busca por novas fronteiras para o vinho, como é o caso da Adega Punica da Sardenha.

Coincidentemente, a visita do enólogo coincidiu com a rodada da Copa das Confederações, em que Brasil e Itália jogaram. O jogo da nossa seleção foi decidido logo no início com o golaço de Neymar, mas teve ainda o bônus do drible desconcertante do camisa 10 que originou o tento de Jô. Já estávamos todos animados pela degustação dos ótimos vinhos, incluindo o Sassicaia, aberto com a benção do proprietário da Ravin, Rogério d'Ávila, que acompanhava Rosa. Este era todo otimismo para a partida contra o Japão ("Se o Brasil fez dois vamos fazer quatro!")... até o jogo começar. Se nós, brasileiros ficamos boquiabertos quando os japoneses fizeram 2 a 0 ainda na metade do primeiro tempo, imagine o italiano. Felizmente para ele - e para as lembranças que ele levou de Indaiatuba - a Azzurra empatou no segundo tempo, e ele deve ter ouvido a vitória suada a caminho de Campinas, onde tinha um jantar marcado.

Eu e o sommelier e velho amigo Eduardo Trama terminamos a noite jantando no restaurante Palazzo, comendo uma boa pasta da casa (ótima combinação custo benefício) e bebendo uma garrafa de Le Difese 2009, comprada na Brancotinto com o desconto do evento, com uma rolha de R$ 20,00 cobrada pela cantina.Caiu como uma luva.