A forma de analisar cinema mudou muito ultimamente. Hoje mercado
e bilheteria tem tanto peso quanto atuação e direção nas análises, e o motivo é
a forma com que o produto é encarado. O abismo entre filme comercial e filme de
arte é cada vez maior, e é justo que assim seja, porque sem um não existe o
outro, e vice-e-versa (daí a obsessão da indústria em se legitimar por meio de prêmios
como o Oscar e outros).
No entanto, não se pode analisar um blockbuster como Homens
de Preto 3 pela mesma ótica de um filme de Martin Scorcese, mesmo uma
superprodução como “A Invenção de Hugo Cabret” (para mim, cada vez mais, o
melhor filme “oscarizável” da temporada que passou). Os dois pretendem fazer dinheiro,
é certo, mas a ambição estética do primeiro é zero, enquanto Scorcese é incapaz
de dirigir um comercial sem um subtexto por trás.
Daí que algumas resenhas sobre o último filme de Will Smith
(que viu seus esforços de divulgação serem bem sucedidos, especialmente no
Brasil, onde conseguiu derrubar "Os Vingadores" do topo do ranking) e falavam que
era “repetia a fórmula do primeiro” (e não do segundo, felizmente), que tinha
absurdos, buracos no roteiro, etc. Tudo isso é verdade, mas o que importa é que
o público se diverte à beça. Mesmo com o “momento emoção” que parece ter virado
mania do astro em quase todos seus filmes recentes (quando ele exagera, dá no
xaroposo “Sete Vidas”, que ninguém suportou).
Tudo segue a receita de bolo do sucesso, desde as
brincadeiras com celebridades-ETs (Bil Gates, Lady Gaga, Mick Jagger) até o uso
de objetos – ou outros – sendo atirados na tela para reforçar a impressão do
3D.
Depois de uma década quase toda dedicada à TV, Barry Sonnenfeld
volta à direção, quando seu último sucesso na telona foi justamente “MIB2”;
Josh Brolin faz um K mais jovem e levemente mais bem humorado com êxito e Tommy
Lee Jones dá mostras de que este é seu último “Homens de Preto”. A
shakespeareana Emma Thompson praticamente só tem chance de mostrar alguma coisa
no discurso em alieneges e sua versão jovem, Alice Eve, só está lá para
enfeitar o filme.
Destaque absoluto para a recriação da lendária The Factory,
de Andy Warhol, uma referencia até estranha num filme destinado às massas e à
divertida atuação de Michael Stuhlbarg, que ficou mais conhecido como o
gangster Arnold Rothstein em “Borderwalk Empire”, como o ET Griffin, papel que
tem a cara de Elijah “Frodo” Wood.
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