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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Terceiro dia do Famtour pela Serra Gaúcha


Cândido Valduga
O dia começou com uma aguardada visita à Dom Cândido, cujo patriarca, Cândido Valduga, é uma espécie de garoto-propaganda da pequena vinícola aos 81 anos. Ele é irmão mais novo de Luis Valduga, fundador da Casa Valduga, com quem afirma ter se dado bem até a morte, apesar de terem visões diferentes sobre a produção. Enquanto a Valduga se transformou numa grande empresa do Vale dos Vinhedos, Candido e o caçula Vitor, da Marco Luigi, batizada em homenagem ao pai dos tres pioneiros na produção de vinhos finos na região, optaram em se manter pequenos e se concentrar na qualidade. "Meu irmão Luis foi o pioneiro do Vale dos Vinhedos e eu sou tres anos mais velho que a Miolo", conta.
Loja de varejo da Dom Cândido
O enólogo da Dom Cândido, Daniel de Paris
Alguns dos melhores vinhos da casa
O bate-papo com "seu" Cândido é uma das atrações da vinícola
Como quase todo mundo no Vale dos Vinhedos, no começo Cândido fornecia para a Cooperativa Aurora, mas esta "quebrou" anos atrás. Depois, o cliente pasou a ser a Dreher, que acabou sendo vendida. A últma opção passou a ser, então, produzir seus próprios rótulos. "Meu pai dizia que fazer vinho era como matar o porco: você acba proveitando tudo, enquanto a uva, se não vender, estraga", relembra.
O enólogo Daniel de Paris nos apresentou o Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2009, produzido de um vinhedo cuidado pessoalmente por Cândido, que custa R$ 92,00; o Merlot Documento 2009 D.O. (com o selo de Denominação de Origem Vale dos Vinhedos), considerado por alguns o melhor Merlot nacionl, que sai na loja de lá por R$ 56,00; e o Espumante Brût Champenoise, com 18 meses de fermentação, que custa R$ 75,00.
Área de recepção das uvas na Casa Valduga
O enólogo Daniel Dalla Valle
Sede da Casa Valduga

Loja de varejo
As gigantescas caves que gardam entre 400 e 500 mil garrafas e 1 milhão de unidades de espumante
Área de remuage das garrafas de espumante
Em seguida fomos visitar a empresa de Luis, o irmão de Cândido, a Casa Valduga, uma das "gigantes" do vinho fino gaúcho. São 1,8 milhões de garrafas de vinho fino por ano, produzidas por uvas cultivadas em 60 hectares no Vale dos Vinhedos, 280 hectares no Vale Sudeste e em 50 hectares na Campanha Gaúcha. O jovem (uma característica em quase todas as vinícolas visitadas) enólogo Daniel Dalla Valle nos conduziu ela visita que começou na recepção das uvas, em que está estreando a máquina selecionadora ótica automática de uvas, que faz sozinha em 3 horas o que dez pessoas levam 10 horas para realizar. "Não se trata de desempregar pessoas", diz Daniel, "mas hoje em dia ninguém mais quer fazer o serviço". Em seguida fomos à sede propriamente dita, para conhecer as imensas caves, onde até 500 mil garrafas de vinho e cerca e 1 milhão de garrafas de espumante amadurecem em condições de temperatura e luz controladas. Lá, também, novos equipamentos de remoção das leveduras e aplicação do licor de expedição dos espumantes, que passarão a processar 2.700 garrafas ao invés das atuais 600 garrafas por dia. Novamente, a justificativa é ae scassez de mão de obra numa região de boa oferta de empregos na indústria.
Linha de retirada das leveduras adição de licor de expedição, que em breve será toda automatizada
Juarez Valduga, um dos proprietários da Casa Valduga
Maria Valduga, espumante top de linha da empresa, exposta no varejo em caixa de vidro
A degustação foi conduzida por um dos proprietários, Juarez Valduga, que nos falou de suas idéias para popularizar o vinho, que tem consumo ainda baixo nos vizinhos do Cone Sul. "Acho que devíamos produzir vinhos com 7 graus de álcool em bag'n box, como vi na Austrália, mais adequado para países quentes", diz. Sobre o enoturismo, e que foi pioneiro no Brasil, ele lembra que quando começou em 1982, "molhava a estrada" para que os turistas conseguissem chegar até sua propriedade, hoje um complexo que inclui restaurante e pousada.
Degustamos o espumante extra brût Gran Reserva 2006, encontrado nos mercados por cerca de R$ 89,00; o Leopoldina Premium Chardonnay 2011, na faixa dos R$ 40,00, e o Identidade Gran Corte 2009, um corte de Arinarnda, Marselan e Merlot na casa dos R$ 83,00. A surpresa da degustação foi a inclusão do espumante top  de linha Maria Valduga Brut Vintage, produzido a partir de uvas Chardonnay e Pinot Noir em homenagem à matriarca Maria Valduga, mãe de Juarez. Em sua garrafa luxuosa, ela é exposta logo na entrada do varejo, sendo vendida por lá a R$ 138,00.
Ambiente rústico e alta gastronomia

O almoço aconteceu no restaurante Valle Rútico, do chef Rodrigo Dallora, em uma casa antiga que pertencia à sua família. No princípio, era uma brincadeira para reunir os amigos, mas já a 3 anos e meio se tornou uma opção em alta gastronomia no Vale dos Vinhedos. Ele nos serviu de entrada bruschettas de berinjela; como salada, folhas orgânicas em creme alsâmico; o primeiro prato foi confit de tomates com manjericão; prato principal, picanha de cordeiro com geléia de pimenta guarnecidas de batatas em manteiga de sávia e, como sobremesa, curau brûllé. Tudo muito bem feito e muito saboroso.
O chef Rodrigo Dallora
Restaurante foi instalado em uma antiga propriedade da família
Bruschetta de beringela na entrada
No Rio Grande do Sul tem água diet
Risoto de confit de tomates com manjericão
Picanha de cordeiro com geléia de pimenta guarnecido com batatas em manteiga de sálvia
Curau brûllè
O primeiro programa após o almoço,  foi a Cave de Pedra, uma das visitas preferidas dos turistas, especialmente por causa das construções de pedra que simulam um castelo medieval. Só que o Vale dos Vinhedos no verão não é a Escócia em qualquer estação,  e fomos conduzidos pela guia ao que poderíamos chamar de "Forno de Pedra".  Os vinhos produzidos pela "vinícola butique", como nos foi apresentado, não justificou nosso cozimento.  Outro contraste foi em relação à recepção: até então havíamos visitado empreendimentos familiares que, além de bons produtos em sua maioria, o calor humano é um diferencial para os turistas. Na Cave de Pedra, um empreendimento que envolveu inicialmente tres sócios, entre os quais Juarez Valduga, a simpatia é a mesma de um caixa de banco eletrônico. As crianças poem até gostar de brincar de Robin Hood entre as paredes de pedra e as armaduras de araque, mas para os adultos os vinhos, como o crime, não compensam.
Fachada da Cave de Pedra, grande ponto turístico do Vale dos Vinhedos
As caves da Cave de Pedra
Linha de vinhos da Cave de Pedra
Local para degustação, ou "forno de pedra"
A tarde terminou na vinícola Angheben, que, mais familiar, impossível.  Apesar de pequenina, a empresa se escora no conhecimento e prestígio do patriarca Indalencio, professor de quase todos os enólogos em atividade na Serra Gaúcha. Ex-enólogo da Chandon e professor da Escola Técnica Federal entre 1971 e 2004, em sua semi-aposentadoria tem assessorado o filho Eduardo, seu ex-aluno, a elaborar e produzir vinhos conceituais. O rigor é tal que os Angheben não fizeram vinho com a safra 2011 por considerá-la de baixa qualidade, ao contrário da 2012 e, principalmente, a atual, 2013, que todos com quem conversamos avaliam como uma das melhores da história.
Angheben, uma verdadeira "vinícola de garagem", ou "de butique"
Eduardo e Indalencio Anghben
Degustação na Angheben custa R$10, e é barato
Se vir este rótulo, pode comprar sem medo
Para a turista, não há muito o que ver no galpão onde a família produz seu vinho, a não ser o próprio, seguindo os preceitos de pai e filho, que seguem um estilo "Velho Mundo", que eles consideram mais adequado ao terroir brasileiro. Iniciamos a degustação com espumante Angheben Bût, método tradicional (champenoise), que custa lá R$46,00. Em seguida provamos um ótimo Gewürztraminer 2012 que custa R$38,00. O Barbera 2010 resgata a variedade que chegou a ser a vitinífera mais plantada no País, de ótima qualidade e preço de R$40,00. O Touriga Nacional 2008, casta portuguesa pouco cultivada no Brasil, custa R$45,00, e o top de linha da Angheben, o Teroldogo, de excelente sabor, custa R$68,00. A família nos apresentou ainda um lançamento, o Rebo 2012, um cruzamento entre Teroldogo e Merlot, que dever ser lançado ainda este ano.
Fachada da Casa di Paolo, ex-Giuseppe
O dia se encerrou com uma bate-papo com o presidente da Associação dos Produtores de Vinhos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Rogério Carlos Valduga, no restaurante Casa di Paolo, que mantém sua estrela no Guia 4 Rodas desde 2004 e é considerado o melhor galeto do Brasil, fama amplamente justificada. Por R$ 49,50, além do galeto ao primo canto, tenro e suculento, são servidos uma deliciosa sopa de agnolini (capeletti, para nós, paulistas), saradicci com bacon, salada e maionese (com folhinhas de mostarda que dão um sabor especial), salada siciliana, queijo a dorê, polenta na chapa, espaguete com molhos de quatro queijos, tomate seco, alho e óleo, funghi e tradicional. E ainda as sobremesas sagu com creme, pudim de leite e ambrosia.
Paulo Geremia, da Casa di paolo, com Rogério Valduga, presidente da Aprovale
Jornalistas atacando a sopa de capeletti, que abre nove entres dez refeições na Serra Gaúcha
Alguns dos pratos servidos no rodízio a R$ 48,00: o galeto merece a fama
Dois dos ambientes da Casa di Paolo

1 comentários:

  1. Maravilha, Kimura. Fiquei com saudades de varios amigos, citados aqui... Curta!!

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